“Boa tarde Yuzuru! Desculpa a minha ignorancia mas eu tô com uma dúvida beeeeeeem de principiante mesmo> É o seguinte: por que nos mapas em geral os signos e as casas não ficam “encaixadinhos” um no outro????? Geralmente se fala do “signo que está na cúspide da casa tal”, aí a gente vai ver e o signo só ocupa, por exemplo, até o 8º grau da casa e daí começa outro. Quando se fala em signos interceptados, o signo fica “preso” dentro de uma casa, mas não é deixado explicito se os outros também estão…. enfim por que essas diferenças de “tamanho” entre uma coisa e outra?????????????
Poderia me tirar essa dúvida?”
Antes de tudo, avisar que estou escrevendo em viagem, ou seja, adeus aos sinais de pontuacao!
Bem, o problema aqui é relembrar a definicao de casas x signos, entender seu contexto histórico e as diferentes filosofias que elas implicam.
Signos inteiros e os topoi
A primeira coisa a saber é que os signos sao originados da astrologia grega, mas com raizes na babilonia e talvez egipcio. Nao é correto dizer, como muitos fazem, que os signos sao babilonicos… os babilonicos usavam constelacoes, e nao signos (muita gente, infelizmente, nao sabe a diferenca, mas quer brincar de ser astrologo…), e aparentemente usavam 15-17 constelacoes mais importantes.
Os egipcios aparentemente usavam um sistema que deu origem aos decanos. Mas qualquer coisa que se diga a respeito é provavelmente só especulacao e auto-engano.
Entre outras inovacoes, os gregos criaram um sistema de topoi, ou temas especificos. Alem dos temas normalmente atribuidos aos planetas (por exemplo amor e amizades para venus, filhos e riquezas para jupiter, etc), também havia a distribuicao de temas especificos para os signos, contados a partir do ascendente. Assim, se o ascendente estivesse em gemeos, todo o signo de gemeos teria associacao com o tema do corpo físico. Cancer sendo o segundo signo teria analogia com dinheiro, etc.
Note que nunca, em momento algum da astrologia, houve a picaretagem que hoje se conhece como “zodiaco natural”, ou como era mais conhecido, o “alfabeto astrologico”: nunca houve nenhuma “associacao natural” de aries com a primeira casa, touro com a segunda, e nem o significado das casas teve absolutamente nenhum significado a partir dos signos. Isso é uma invencionice do século 19-20 e que virou “verdade” na onda new age pós anos 60. Na verdade, para os gregos, o “ascendente natural” seria cancer.
Até hoje o sistema de signo inteiro é usado na astrologia védica. Para cartas natais, é sempre interessante dar uma olhada na carta por signo inteiro também, se a posicao por signo inteiro difere da posicao por casa. Nao lembro de nenhuma referencia na astrologia grega que possa defender o uso de regentes das casas intermediarias. Quando eles falam de regentes geralmente se referem apenas ao regente do ascendente, ou da parte da fortuna, etc. Fora isso, só lembro de referencias aos signos inteiros quando se descreve um planeta nesse signo. Por exemplo, coisas como “marte no terceiro signo prejudica os irmaos”. Mas nenhuma palavra sobre olhar o regente do terceiro signo.
Os “novos helenistas” defendem que todo sistema de casa seria apenas uma traducao mal feita do sistema de signos inteiros. Considero essa posicao extremista e um tanto pretensiosa. Uso os signos inteiros faz muitos anos, e eles funcionam, mas a proposicao de que todos os sistemas de casas estao errados é mais moda. O pendulo sempre vai de um lado para outro em astrologia, e costuma avancar demais para cada lado, antes de voltar a um ponto mais equilibrado. Alguns anos atrás era pecado falar qualquer coisa que discordasse de Frawley. Agora aparentemente é o astrólogo Robert Schmidt o grande dono da verdade. Como eu disse, a moda vem e passa.
Entra em cena o MC
Se o ascendente fosse o único ponto de importancia na carta, o sistema de signos inteiros seria perfeito e maravilhoso. Infelizmente aparece outro ponto importante, o Meio do Céu, ou MC. O MC é a projecao do meridiano sobre o zodíaco. O meridiano é a linha que passa pelo topo de sua cabeca unindo os pólos norte e sul. De uma maneira geral, o MC representa o “ponto mais alto” do movimento celeste diurno (mais sobre esse tema a seguir) e portanto representa temas como fama, carreira, reis e “topo do mundo”.
No entanto como o MC nao tem relacao com o ascendente, perto do equador ele estará geralmente no décimo signo a partir do ascendente, mas também pode estar no 9o signo ou no 11o. E, quanto mais aumenta a latitude, pior o problema. Vários astrólogos “analisam” se o MC faz aspecto com o ASC. Pura bobagem, obviamente. Quase todo mundo que nasce nos trópicos vai ter o MC em quadratura quase exata com o ascendente.
Como o ascendente e o MC nao se casam perfeitamente, o desafio é tentar forcar uma maneira de que os dois, se nao se casem, pelo menos namorem.
Sistemas por divisao.
Todos os sistemas que, de uma maneira geral, dividem o zodiaco em partes desiguais chamadas “casas”, sao chamados de sistemas “de divisao”. Era comum na época árabe usar dois sistemas, um olho no signo-inteiro e outro olho na divisao.
Há muitos sistemas, como Placidus, Koch, Regiomontanus. Os sistemas mais antigos sao porphirius e alchabitius. Porphirius é o mais antigo e o mais simples…. pegue o mapa e divida cada quadrante em tres. Por exemplo o quadrante entre o Ascendente e o MC, se for de 120 graus, seria dividido em 3 partes iguais de 40 graus cada, etc. Fora alguns sistemas aberrantes, todos consideram o ascendente como o inicio da casa 1, e o MC como inicio da casa 10.
Agora nos sistemas por divisao, nao há absolutamente nenhuma obrigatoriedade de haver uma correspondencia entre signos e casas. Vamos supor que o ascendente seja em 20 cancer. A cuspide da casa 2 pode estar em Cancer, ou Leao, ou Virgem…. vai depender muito da latitude.
Também será possível que um signo esteja totalmente interceptado. POr exemplo, a cúspide da casa 2 está em cancer, e da casa 3 está em virgem, e o signo de Leao está lá, escondidinho no meio dos dois. Como a divisao é simétrica, significa que para cada signo interceptado (casas grandes) em um quadrante, haverá em outro quadrante casas muito pequenas, e as cuspides de 2 ou 3 casas num único signo. Os sistemas de divisao tendem a “colapsar” quando o local é muito perto dos pólos.
Dois sistemas.
Os signos do zodiaco nascem do movimento secundário do sol e dos planetas na ecliptica. É um dos motivos pelos quais na astrologia ocidental se optou por usar o ponto Aries, e nao as estrelas fixas, como marco zero do zodíaco. Os planetas representam um movimento eterno e perfeito em sua perpétua circularidade. Estao bem ou estao mal, mas em si os planetas e os signos sao imutaveis.
Mas também há um segundo movimento, o primário, criado pela rotacao da Terra. Através desse movimento, todos os planetas e estrelas vao nascer no Leste, culminar no Meridiano e se por ao Oeste. Esse é o movimento “terrestre”, nao tao perfeito e imutável quanto o celestial, mas mais mundano e portanto adequado a nossa pequena vida, que nao é perfeita, mas que tem comeco, meio e fim.
Entao, para mim, nada mais lógico do que termos dois sistemas, um que está relacionado com a lógica perfeita das Esferas, e de seu significado e simbologia espiritual, e outro que está ligado com a pobre materialidade terrestre, do nascimento, transformacao e morte.
Os sistemas de divisao “aterrisam” o mapa, mostrando o quanto determinada configuracao tem poder para se manifestar, e como ela está tendo seu sentido modificado pela vil e compicada vida, que raramente colabora com o que “devia ser”.
Abracos
sergio
3 de janeiro de 2010
Bomdia, preciso de uma orientação de vcs. Não consigo localizar na net aTábua ou livro das casas Rafael ou , pode me orientar onde encontro?. Obrigado
yuzuru
3 de janeiro de 2010
Desconheço.
irene
1 de outubro de 2009
Yuzuru, respondi pra vc mas a luz acabou e parece que não foi ou estou mandando 2x (?)
Valeu o toque sobre o inventor do sistema Placidus que eu não conhecia (vou tentar descobrir mais sobre ele)
Quanto à Deborah H., ela não concorda com isso também não e diz que é pura especulação!!
Obrigada novamente!
irene
1 de outubro de 2009
Certo, interessante Yuzuru, não sabia sobre isso e vou tentar pesquisar… mas mais interessante é Valens mencionar porphirius pq tenho mesmo uma “queda” pelos gregos, haha
AH, ela não diz que Ptolomeu usava qualquer sistema de domificação não, pelo contrário, ela diz que é pura especulação!
irene
1 de outubro de 2009
AH sim! O que ela fala é que o monge Beneditino, Placidus de Titis (1603-1668) foi quem “popularizou” o uso do sistema no séc. 17 e que já haviam tábuas pra esse sistema em 1604 (1 ano após seu nascimento) e que apareceram pela primeira vez em 1305 em um astrolábio e ainda que Ibn Ezra (séc.12) reconhecia (admitia) esse sistema como o sistema usado por Ptlomeu e mais, que Placidus em seu trabalho menciona: “I desire no guides but Ptlomeu and reason”
Ela reconhece que Ptolomeu não demonstra usar um sistema específico de domificação e discute isso no último cap.9 que estou acabando ainda de ler.
Também reconhece que hoje em dia é o sistema mais usado por causa da facilidade das tábuas de Raphael mas que não deveria ser subestimado a filosofia de seu sistema.
De fato é sabido que a maioria dos sistemas não foram criados por quem leva seu nome e é possível mesmo que o sistema de Placidus já existisse muito antes dele!?
yuzuru
1 de outubro de 2009
Oi, todos os sistemas existiam antes dos seus “inventores”.
o sistema porphirius foi descrito por valens muito antes de porphirius nascer. O mesmo vale para alchabitius, e Placidus.
Na verdade, o sistema em si nao vem exatamente de placidus, vem de nabirius (acho que é assim que escreve). Placidus é um sistema aproximativo de nabirius. Tanto é que, com os computadores, na verdade o sistema de casas nao é mais aproximativo, entao na pratica, nao usamos placidus.
Deborah sempre teve muita atracao por Placidus. Eu pessoalmente acho um sistema muito suspeito, mas cada um deve ver se quer trabalhar com o sistema. O motivo que a maioria dos astrologos usa ele é que vem como default, entao quando estao acostumados inventam um monte de justificativa….
Ptolomeu nao usava domificacao e quem diz que sim está inventando na verdade.
irene
1 de outubro de 2009
correção: estou acabando de ler…
irene
1 de outubro de 2009
Hmm, que coisa!
Estou acabando ler The Houses, Temples of the Sky da Deborah Houlding e pelo que entendi (leio com certa lerdeza, rss) ela divide os sistemas em espaciais e temporais colocando tanto Alchabitius qt Placidus ( e ainda Koch – 1960)) pra divisão temporal e faz essa diferença:
“The fundamental differences lie in the way these projections are related to the ecliptic: by use of hour circles [Placidus], vertical circles [Alchabitius], or projections of the Ascendant [Koch].” pag.105
Ela ainda diz não ser claro qual dos 2 sistemas “predates” o outro e menciona que Placidus poderia ser sido o método original baseado nos antigos “two-hourly watches”:
“The perfect harmony between Placidus cusps and the tradicional use of planetary hours, adds credence to the claim that this could have been an original method of house division,…” pag.104
Ela não favorece nenhum sistema em especial e deixa claro que é uma escolha de cada um enfatizando tempo ou espaço mas eu fico pensando se Alchabitius não seria tb um certo “modismo”, sabe como?
Acho muito difícil me definir e talvez pra acabar com esse dilema deva usar Porphyry pela sua simplicidade!?
(só pra constar: eu batia literalmente com a cabeça na parede quando era criança…..) rsss
yuzuru
1 de outubro de 2009
Acho esse comentario da Deborah meio estranho, porque pelo que eu saiba, Alchabitius era usado muuuuuuuuuito antes de placidus nascer.
irene
29 de setembro de 2009
Valeu a super explicação Yuzuru!!
Então Alchabitius não é inteiramente temporal, né?
Ele usa a hora planetária fundamentada no espaço (círculos temporais) enquanto Plácidus progride o Asc em 2 horas planetárias para chegar a casa 11 e + 2 para chegar ao MC (que sempre será o mesmo grau)!! Me parece bem mais coerente o sistema de Placidus com o movimento terrestre e mundano (primum móbile) e acho que estou me convertendo, rsss
Interessante também as referências de Steven Birchfield! Poderia tb ser na casa 9 uma carreira ligada a outro país ou línguas estrangeiras e na casa 11 trabalho pro governo apesar de que cheio de inimigos pelo visto, hehe
Obrigadão!
yuzuru
29 de setembro de 2009
Oi, Irene
acho que alchabitius nao é temporal, mas voce vai ter que procurar pela internet.
Placidus é defendido por muitos, mas eu acho muito menos coerente do que ele parece…. mas nesse ponto ele supostamente representa bem o movimento celeste, mas ele sempre vai ter um grau de arbitrariedade… nao existe sistema perfeito.
No caso de placidus, a coisa mais confusa, na minha opiniao é que as casas sao definidas mundanamente, e dai que sao projetadas, de uma maneira bem estranha, na ecliptica, que estao as cuspides que costumamos usar.
Aldis
27 de setembro de 2009
obrigado pela resposta e pela paciência! encontrei livros de astrologia moderna que falam sobre signos interceptados, achei que a coisa tinha origem nos textos antigos. De qualquer forma, uma caridade astrológica para os regentes dos signos talvez já bastasse, ou os mantras. Valeu!
irene
25 de setembro de 2009
Gostei muito Yuzuru!
Me esclareceu totalmente sobre a diferença dos 2 sistemas! Adorei a explicação!!
Queria te perguntar, não sei se vc vai falar disso no próximo post, é com relação ao posicionamento do MC e os sistemas de domificação:
Sei que Plácidus e Alchabitius usam sistemas baseados no tempo e não no espaço, como Regiomontanus, Morinus e Campanus mas, pelo que entendi, o cálculo de Plácidus divide todo o arco diurno em horas planetárias (2 horas p/ cada casa) e o de Alchabitius só o semi-arco diurno, se é que entendi direito, e não entendo porque dá o mesmo grau do MC?
Neste caso todas as cúspides deveriam ser também iguais entre esses 2 sistemas, não?
Imagino que seja o tipo de cálculo e não sei se é fácil explicar essa diferença pra “nós”, leigos em trigonometria, rsss
Mas se puder esclarecer um pouquinho já fico feliz!!
Outra pergunta é sobre a leitura do mapa nos casos em que o MC se encontra na 9 ou 11, como se daria a interpretação?
Obrigada!!!
yuzuru
27 de setembro de 2009
Irene: Hmmm, acho que Alchabitius é basicamente um sistema espacial em sua concepcao.
O sistema de alchabitius usa o hour circle (se nao me engano, estou com preguica de procurar) ou circulo pararelo ao equador que corta o horizonte no ponto do ascendente. Depois disso, ele divide cada quadrante em tres partes iguais e projeta essas partes na ecliptica. Nesse caso o Meridiano é vital para determinar os quadrantes.
Placidus tambem vai levar em conta o MC, mas por outro motivo… pelas proprias caracteristicas do MC, ele representa o ponto médio do nascer ao por do planeta. Ou seja, é o ponto que marca a metade do caminho.
Nao, apesar de que, quanto menor a latitude, mais os sistemas se parecem.
Eu pessoalmente nao uso a questao da 9 ou 11, mas Steven Birchfield cita algumas referencias que diziam que o MC na 9 poderia indicar algo como uma carreira espiritual. Eu nao creio que isso funcione, mas fica a referencia. Outra possibilidade seria que o MC na 11 indica uma casa 11 no 12o signo, o que transformaria amigos em inimigos, etc.
Aldis, na minha concepcao, os planetas que podem estar aflitos ou nao, e nao os signos, entao para mim a pergunta nao teria sentido, mesmo porque há aficoes muito superiores a uma coisa tao ambigua quanto estar num signo interceptado (que depende basicamente do sistema de divisao). O único fator interpretativo que já vi é em caso de horárias de objetos perdidos. Se o planeta que simboliza o objeto está num signo interceptado, normalmente ele está dentro de alguma coisa, como uma mala ou bau.
Aldis
24 de setembro de 2009
oi, yuzuru, sem querer ser chato em insistir, signo interceptado pode ser considerado uma aflição?
Aldis
23 de setembro de 2009
Sobre signos interceptados, estou interessado no tema por ter gêmeos e sagitário interceptados. Você poderia indicar algum livro que fale sobre o significado dos signos interceptados e/ou casas interceptadas?
yuzuru
23 de setembro de 2009
nao é um tópico tao importante, entao duvido que alguem tenha escrito um livro a respeito.
yuzuru
22 de setembro de 2009
Curiosamente estava ouvindo uma entrevista com Chris Brennan e ele defende que a tradicao babilonica trouxe a enfase na ecliptica, e a egipcia com os decanos trouxe uma enfase na rotacao e movimento primario, com os gregos unindo as duas pontas.
PFN
22 de setembro de 2009
Ótimo post Yuzuru.
Desviando um pouco o assunto, gostaria de ver um post seu falando um pouco sobre a prescessão. Ultimamente minha cabeça tem dado voltas sobre isso, um vez que muitos defendem a correção por prescessão na RS. Não tenho uma opinião definitiva, pois apesar da prescessão fazer algum sentido no plano mundano, ela descaracteriza o retorno do Sol ao ponto exato na hora do nascimento, movendo o Sol alguns minutos além da de sua posição natal (alguém poderia arguir que a nova posição do Sol é a posição relativa correta em relação ao nascimento, mas tenho minhas dúvidas). Pode não ser uma mudança radical para o Sol após a correção, mas muda o AC, alterando tudo numa leitura.
Isso leva a uma discussão sobre representação simbólica x movimento real, sendo que os signos zodiacais são simbólicos, mas os planetas e a própria Terra que transitam em relação a eles não são (a representação simbólica faz sentido para os tropicalistas, oq não é verdade para sideralistas).
Vc tem uma posição definida sobre o assunto?
yuzuru
22 de setembro de 2009
Sim, tenho uma posicao. Nao vejo a minima seriedade na precessao (quantos “s” tem? estou com preguica de procurar)
Um dia eu explico, mas os que defendem a precessao NAO sao sideralistas… sao constelacionistas enrustidos