Signos e casas

Posted on 22 de setembro de 2009

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“Boa tarde Yuzuru! Desculpa a minha ignorancia mas eu tô com uma dúvida beeeeeeem de principiante mesmo> É o seguinte: por que nos mapas em geral os signos e as casas não ficam “encaixadinhos” um no outro????? Geralmente se fala do “signo que está na cúspide da casa tal”, aí a gente vai ver e o signo só ocupa, por exemplo, até o 8º grau da casa e daí começa outro. Quando se fala em signos interceptados, o signo fica “preso” dentro de uma casa, mas não é deixado explicito se os outros também estão…. enfim por que essas diferenças de “tamanho” entre uma coisa e outra?????????????
Poderia me tirar essa dúvida?”

Antes de tudo, avisar que estou escrevendo em viagem, ou seja, adeus aos sinais de pontuacao!

Bem, o problema aqui é relembrar a definicao de casas x signos, entender seu contexto histórico e as diferentes filosofias que elas implicam.

Signos inteiros e os topoi

A primeira coisa a saber é que os signos sao originados da astrologia grega, mas com raizes na babilonia e talvez egipcio. Nao é correto dizer, como muitos fazem, que os signos sao babilonicos… os babilonicos usavam constelacoes, e nao signos (muita gente, infelizmente, nao sabe a diferenca, mas quer brincar de ser astrologo…), e aparentemente usavam 15-17 constelacoes mais importantes.

Os egipcios aparentemente usavam um sistema que deu origem aos decanos. Mas qualquer coisa que se diga a respeito é provavelmente só especulacao e auto-engano.

Entre outras inovacoes, os gregos criaram um sistema de topoi, ou temas especificos. Alem dos temas normalmente atribuidos aos planetas (por exemplo amor e amizades para venus, filhos e riquezas para jupiter, etc), também havia a distribuicao de temas especificos para os signos, contados a partir do ascendente. Assim, se o ascendente estivesse em gemeos, todo o signo de gemeos teria associacao com o tema do corpo físico. Cancer sendo o segundo signo teria analogia com dinheiro, etc.

Note que nunca, em momento algum da astrologia, houve a picaretagem que hoje se conhece como “zodiaco natural”, ou como era mais conhecido, o “alfabeto astrologico”: nunca houve nenhuma “associacao natural” de aries com a primeira casa, touro com a segunda, e nem o significado das casas teve absolutamente nenhum significado a partir dos signos. Isso é uma invencionice do século 19-20 e que virou “verdade” na onda new age pós anos 60. Na verdade, para os gregos, o “ascendente natural” seria cancer.

Até hoje o sistema de signo inteiro é usado na astrologia védica. Para cartas natais, é sempre interessante dar uma olhada na carta por signo inteiro também, se a posicao por signo inteiro difere da posicao por casa. Nao lembro de nenhuma referencia na astrologia grega que possa defender o uso de regentes das casas intermediarias. Quando eles falam de regentes geralmente se referem apenas ao regente do ascendente, ou da parte da fortuna, etc. Fora isso, só lembro de referencias aos signos inteiros quando se descreve um planeta nesse signo. Por exemplo, coisas como “marte no terceiro signo prejudica os irmaos”. Mas nenhuma palavra sobre olhar o regente do terceiro signo.

Os “novos helenistas” defendem que todo sistema de casa seria apenas uma traducao mal feita do sistema de signos inteiros. Considero essa posicao extremista e um tanto pretensiosa. Uso os signos inteiros faz muitos anos, e eles funcionam, mas a proposicao de que todos os sistemas de casas estao errados é mais moda. O pendulo sempre vai de um lado para outro em astrologia, e costuma avancar demais para cada lado, antes de voltar a um ponto mais equilibrado. Alguns anos atrás era pecado falar qualquer coisa que discordasse de Frawley. Agora aparentemente é o astrólogo Robert Schmidt o grande dono da verdade. Como eu disse, a moda vem e passa.

Entra em cena o MC

Se o ascendente fosse o único ponto de importancia na carta, o sistema de signos inteiros seria perfeito e maravilhoso. Infelizmente aparece outro ponto importante, o Meio do Céu, ou MC. O MC é a projecao do meridiano sobre o zodíaco. O meridiano é a linha que passa pelo topo de  sua cabeca unindo os pólos norte e sul. De uma maneira geral, o MC representa o “ponto mais alto” do movimento celeste diurno (mais sobre esse tema a seguir) e portanto representa temas como fama, carreira, reis e “topo do mundo”.

No entanto como o MC nao tem relacao com o ascendente, perto do equador ele estará geralmente no décimo signo a partir do ascendente, mas também pode estar no 9o signo ou no 11o. E, quanto mais aumenta a latitude, pior o problema. Vários astrólogos “analisam” se o MC faz aspecto com o ASC. Pura bobagem, obviamente. Quase todo mundo que nasce nos trópicos vai ter o MC em quadratura quase exata com o ascendente.

Como o ascendente e o MC nao se casam perfeitamente, o desafio é tentar forcar uma maneira de que os dois, se nao se casem, pelo menos namorem.

Sistemas por divisao.

Todos os sistemas que, de uma maneira geral, dividem o zodiaco em partes desiguais chamadas “casas”, sao chamados de sistemas “de divisao”. Era comum na época árabe usar dois sistemas, um olho no signo-inteiro e outro olho na divisao.

Há muitos sistemas, como Placidus, Koch, Regiomontanus. Os sistemas mais antigos sao porphirius e alchabitius. Porphirius é o mais antigo e o mais simples…. pegue o mapa e divida cada quadrante em tres. Por exemplo o quadrante entre o Ascendente e o MC, se for de 120 graus, seria dividido em 3 partes iguais de 40 graus cada, etc. Fora alguns sistemas aberrantes, todos consideram o ascendente como o inicio da casa 1, e o MC como inicio da casa 10.

Agora nos sistemas por divisao, nao há absolutamente nenhuma obrigatoriedade de haver uma correspondencia entre signos e casas. Vamos supor que o ascendente seja em 20 cancer. A cuspide da casa 2 pode estar em Cancer, ou Leao, ou Virgem…. vai depender muito da latitude.

Também será possível que um signo esteja totalmente interceptado. POr exemplo, a cúspide da casa 2 está em cancer, e da casa 3 está em virgem, e o signo de Leao está lá, escondidinho no meio dos dois. Como a divisao é simétrica, significa que para cada signo interceptado (casas grandes) em um quadrante, haverá em outro quadrante casas muito pequenas, e as cuspides de 2 ou 3 casas num único signo. Os sistemas de divisao tendem a “colapsar” quando o local é muito perto dos pólos.

Dois sistemas.

Os signos do zodiaco nascem do movimento secundário do sol e dos planetas na ecliptica. É um dos motivos pelos quais na astrologia ocidental se optou por usar o ponto Aries, e nao as estrelas fixas, como marco zero do zodíaco. Os planetas representam um movimento eterno e perfeito em sua perpétua circularidade. Estao bem ou estao mal, mas em si os planetas e os signos sao imutaveis.

Mas também há um segundo movimento, o primário, criado pela rotacao da Terra. Através desse movimento, todos os planetas e estrelas vao nascer no Leste, culminar no Meridiano e se por ao Oeste. Esse é o movimento “terrestre”, nao tao perfeito e imutável quanto o celestial, mas mais mundano e portanto adequado a nossa pequena vida, que nao é perfeita, mas que tem comeco, meio e fim.

Entao, para mim, nada mais lógico do que termos dois sistemas, um que está relacionado com a lógica perfeita das Esferas, e de seu significado e simbologia espiritual, e outro que está ligado com a pobre materialidade terrestre, do nascimento, transformacao e morte.

Os sistemas de divisao “aterrisam” o mapa, mostrando o quanto determinada configuracao tem poder para se manifestar, e como ela está tendo seu sentido modificado pela vil e compicada vida, que raramente colabora com o que “devia ser”.

Abracos