O que é simbolismo ?
É lugar-comum dizer que a astrologia é uma “linguagem simbólica”. Mas temos que fazer uma perguntinha chata: existe uma linguagem não simbólica ? O que significa símbolo, e qual é o papel na astrologia do simbolismo ?
Há algum tempo atrás eu prometi que ia fazer um artigo sobre astrologia e linguagem. Bem, como não pretendo nem posso fazer uma tese de doutorado no blog, resolvi ir discutindo os assuntos aos pouquinhos… Então a primeira coisa que decidi foi discutir o papel do simbolismo na astrologia.
Discussões simbólicas: a necessidade de “limpar a casa”
Acho essencial, antes de começar, explicar algumas coisas. É minha opinião que esse tópico, assim como vários outros, não apenas em astrologia, está “intoxicado” de discussões new age, pretensiosas, que não vão a lugar nenhum. Se você quer iniciar um tópico em fórum de discussão que vai ter dar 250 respostas que não acrescentam nada. Serão citações vazias a Wittgestein, Freud, Jung, Blavatsky, etc, por pessoas que nunca leram o livro mas sabem tudo sobre o autor. Que cansaço… então estava aqui pensando se podemos discutir com algo que realmente ajude um praticante, e pensei que minha abordagem poderia ser muito menos presa a essa monte de conceitos e ideologias prévias sobre o símbolo usando alguns conceitos da linguistica (sem Wittgestein, sorry).
Então vou me abster de discussões sobre inconsciente coletivo, formas pensamento, jogos linguisticos, etc, pelo menos por enquanto 🙂
Signo ou Sinais
Antes de irmos adiante vamos definir a diferença entre signo (não o signo zodiacal, e sim no sentido de “sinal”) e símbolo, do ponto de vista puramente linguístico.
O signo é qualquer tipo de sinal que é arbitrário e existe por convenção de um grupo. Por exemplo a letra “A” é um signo. Ele existe por convenção, ou seja, todos nós aceitamos que essa letra tenha um certo som, e possa ser lida de certa forma. É arbitrário porque não existe nenhuma relação “natural” entre a letra e o som que associamos à letra. Poderia ser qualquer letra para representar esse som !
Uma crença comum entre as crianças é que existe uma relação natural entre as palavras e as coisas que elas representam. Por exemplo, achar que a palavra “cadeira” está naturalmente ligada ao objeto cadeira. Isso viria do fato das crianças desconhecerem a existência de outras línguas, e de também não lembrarem de como aprenderam as palavras. Assim as crianças se convencem de que sempre souberam qual a palavra associada ao objeto…
A crença infantil é coincidente com a prática mágica em muitas culturas. Por exemplo a de se escrever o nome da pessoa num papel com uma maldição, ou fazer um talismã com uma palavra mágica. Na Biblia o mundo teria sido criado através da palavra, e para os judeus é tabu pronunciar o tetragramaton, o nome de Deus.
É claro que basta mostrar a letra “A” a um chinês para se convencer de que não há nada natural em se atribuir esse som a essa letra ! Ou chamar cadeira de “cadeira” e não de “chair” ou “Stuhl” ou “كرسي,” ou “椅子” !
Por isso, muitas das coisas que chamamos de “símbolos” são na verdade “signos”. Por exemplo o signo da radiação, é um signo, pois só sabemos o que representa por convenção. O mesmo vale para a maioria dos sinais de trânsito, o símbolo signo de paz e amor, etc.
E então surgiu o símbolo…
Já o símbolo tem uma representação do objeto representado, que pode ser através de recursos como a representação simples, pegar a parte para representar o todo, ou ainda usar de metáforas para expressar algo “maior que o objeto representado”.
Um exemplo seria o sinal de “perigo” que envolve uma caveira humana. Aqui, ao contrário do sinal de radiação, estamos falando de elementos simbólicos… imagine você andando pelo meio da áfrica, e dessos cruzados…
Obviamente que a fronteira entre sinal e símbolo é muito fluida, mas é possível diferenciar o básico… No exemplo acima, o sinal de yin yang é um símbolo básico humano. Ele não é combinado com um outro símbolo de fogo para representar “fogo mutável”, como poderia ser feito com a palavra “cadeira” que pode ser combinado com o adjetivo “vermelha”. O símbolo com os dois bonequinhos deseja expressar uma situação de submissão, mas ele não é um sinal convencionado, mesmo assim, em nossa cultura, qualquer pessoa consegue entender seu contexto representativo.
O símbolo esse grande desconhecido
A particularidade representacional e emocional do simbolo trouxe diversas análises. Freud pesquisou os símbolos no contexto de repersentação dos sonhos. Assim, no sonho podia aparecer “símbolos fálicos”, facas, torres, guarda-chuvas, e uma série de elementos que representam no inconsciente o pênis. Uma anedota demonstra esse poder: um professor de alemão me contou que hoje, para introduzir o tema do gênero triplo em alemão, perguntou a seus alunos “qual é a coisa mais masculina que vocês conseguem imaginar ?” e a resposta foi “salsicha” ! De todos os animais, pessoas, objetos ou símbolos para se representar a “masculinidade” o escolhido foi obviamente uma palavra que é sinônima de pênis, mostrando que Freud estava correto, o inconsciente nos entrega…
Jung criou o inconsciente coletivo para justificar que muitas culturas tivessem símbolos parecidos, como a mandala, a suástica, os quatro elementos, a pirâmide, etc. Ele notou que esses símbolos também apareciam em sonhos de pessoas normais e em delírios de loucos. Se para Freud o símbolo do sonho é apenas um mecanismo representacional da mente não verbal, para Jung o símbolo tem algum tipo de “substância” que vem de sua universalidade.
Do ponto de vista da representação dos universais simbólicos e do pensamento místico, sugiro como muito mais interessante a leitura de “o sagrado e o profano” do que o próprio Jung.
A astrologia é constituida de símbolos ou signos ?
A astrologia é constituida de elementos como signos zodiacais, casas astrais, aspectos, planetas… eles são símbolos ou signos (sinais) ? Sua natureza é arbitrária e convencional ou ôrganica e universal ?
A resposta é… as duas coisas.
Não perca a continuação dessa discussão 😉
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yuzuru
18 de fevereiro de 2007
O aprendizado em chines é mais facil ? Essa nunca tinha ouvido falar…
Gi
16 de fevereiro de 2007
Ahahaha! Adorei essas meninas. 😉
fligue
16 de fevereiro de 2007
Interessante é a escrita chinesa os ideogramas que é a imagem de uma idéia, o que seria a palavra força para nós é o desenho de uma foice que representa o trabalhador braçal que trabalha na lavoura, afinal acho q quando surgiu sua lingua tinham que usar o que tinha de básico para representar.
O aprendizado em chinês é muito mais fácil do que se imagina porque ele usa o lado direito do cérebro que é um desenho fácil de se relacionar e não um simbolo de difícl nexo.
Adoro trabalhar o lado direito do cérebro, se vc quer gravar algo rápido e fácil é só consiliar algo concreto para o lado direito um simbolo e algo para o lado esquerdo uma idéia é gravará fácil e rápido.
Nalu
15 de fevereiro de 2007
Yuzuru, parece que o problema é com a foto do post “A tecnica dos transitos”, no monitor de onde eu estou, 800×600 14 polegadas parece que a foto tá ultrapassando a área *útil* da tela. Acho que se vc diminuir o tamanho, deve resolver. Abraços.
yuzuru
15 de fevereiro de 2007
Gi: estou tomando cuidado nesse tópico pra nao ficar falando muito sobre temas que nao domino… mas tenho um amigo que pergunto se estou falando muita bobagem sobre linguistica 😉
apesar de ser tema que nao vai ser muito popular em buscas do google, heheheh, eu acho que tem um interesse, já que a astrologia, tarot, etc, ao serem interpretados, constituem uma linguagem.
Quanto a Saussure, acho que ele está para a linguistica assim como Lacan está para a psiquiatria e Joyce para a literatura… ninguem leu e quem diz que leu e entendeu provavelmente está mentindo !
Um “causo” sobre o poderoso Falus… eu estava na exposicao de arte egipcia aqui em bogota com um amigo. Acabamos de entrar, o guia está falando pras colegiais sobre o mito de osiris, da morte, ressureicao, Isis buscando os 13 pedaços, e o único pedaço que faltou foi o “falo”. Dai as meninas no fundo ficaram perguntando uma pra outra “o que é falo ?” e meu amigo falou “significa pênis” e todas “ohhhhhh”, o guia ficou com tanta raiva…
yuzuru
15 de fevereiro de 2007
Nalu, sabe se o problema continua ? Meu monitor é 800×600 e nao consigo ver nada, e como nao entendo lhufas disso, estou à mercê da boa vontade do wordpress…
Nalu
14 de fevereiro de 2007
Yuzuru, tá muito bom o post, quero ver a continuação…Já tava a fim de ler o Eliade agora vou apressar a leitura, esse tema me chama muito a atenção. Mas seu template tá com algum problema na resolução 800×600, não aparece a coluna lateral…. Abraços.
Gi
14 de fevereiro de 2007
Eu estudei tudo isso em Teoria da Comunicação I e II e Linguística; até mesmo em Secretaria Gráfica, esta última mais técnica e eu não gostava. Eram sempre trechos; então nunca li, por exemplo, um Saussure de cabo a rabo. Em Comunicação Social o professor diz que você tem de ler apenas trechos sobre tudo, afinal de contas quem quer se especializar o fará depois num mestrado ou em casa mesmo. Sem querer separar os dois. Bem, e a faculdade de Com. é exatamente isso: somos especialistas em tudo e nada. Para ilustrar seu post, vou lembrar de algo que acho engraçado no mundo de hoje: as discussões feministas. Muito se fala de anúncios machistas mas ninguém analisa o poder do símbolo e da associação. Acho que é difícil voltar atrás nessa história de “falus”. Até elas compreenderem que focinho de porco não é tomada… ufffff.. 😉